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Um pouco sobre o

Autocriticismo

Um tanto de autocrítica é fundamental para que possamos viver bem em sociedade. Como vimos no texto anterior, as nossas emoções trazem informações importantes, nos preparando para uma ação relacionada à satisfação de necessidades centrais à nossa saúde e bem estar. Ou seja, a vergonha é adaptativa quando temos algum comportamento que coloca em risco a integração no meio social e a função da vergonha é de repararmos o erro de forma a garantir a nossa inclusão no grupo mantendo o senso de pertencimento. Quando vivemos experiências de abandono, rejeição e crítica, tendemos a nos responsabilizar pelo acontecimento, nos trazendo de certa forma, uma sensação de estar no controle. Ou seja, “minha mãe me rejeitou porque eu fui desobediente. Se eu a obedecer, ela não irá me rejeitar mais”. Criamos regrinhas como essa, baseadas na nossa experiência com pessoas ao longo da vida. Naturalmente, pessoas mais importantes ou experiências mais dolorosas nos marcam mais. E essas experiências vão moldando a forma com que cada pessoa se vê e consequentemente como cada um interage consigo mesmo.
Diante de dores intensas, pode ser que alguém se defenda da crítica e veja apenas o erro do outro, como se ela mesma não errasse nunca. Esse é o caso de pessoas mais narcisistas. Elas apagam a voz da autocrítica e apenas criticam o outro, o que é muito prejudicial para suas relações, pois é desagradável conviver com pessoas assim. Elas acabam sendo mais propensas à rejeição e se defendem criticando ainda mais o outro, num ciclo difícil de ser interrompido
A autocrítica moderada, ou seja, aquela que aparece quando de fato cometemos um erro que necessita ser reparado, é muito bem-vinda. Ela nos ajuda a pedir desculpas, a mudarmos o comportamento inadequado e a cuidarmos mais da relação com o outro, sem perdermos a sensação de autovalor.
Porém, o que vemos na maioria das vezes, são pessoas que se julgam e se condenam por qualquer possibilidade de erro e desenvolvem ao longo da vida um desprezo por si mesmo, como se desejassem apagar e excluir partes de si, ou partes da sua história (memórias dolorosas). Esse é o caso do autocriticismo severo. Aquela voz que parece um disco agarrado na cabeça, nos chamando de adjetivos pejorativos e trazendo uma sensação terrível de ser defeituoso. Essa voz está mais relacionada à sensação de rejeição experienciada ao longo da vida do que de fato à qualidade da pessoa, seja essa qualidade moral, intelectual, de beleza física, etc. Pessoas inteligentes se chamam de burras, pessoas lindas se acham feias e pessoas de bem se criticam por ações mínimas como se fossem graves.
E algumas pessoas estão mais propensas a viverem experiências de vergonha e rejeição ao longo da vida, do que outras. Ou seja, sempre que alguém apresenta alguma característica fora do padrão ideal da sociedade, ela será convidada a se sentir inferior, mesmo que não tenha lógica nenhuma o padrão. Este é o caso de pessoas pretas, de pessoas que possuem algum transtorno mental, de quem possui um corpo diferente do das modelos e diversas outras situações.
Portanto, o que gera o autocriticismo severo não é o “suposto defeito” em si, mas o sentimento de vergonha e rejeição que foram vivenciados ao longo da vida, especialmente na infância, quando ainda estamos construindo o nosso senso de identidade e autovalor. Por isso, trabalho enquanto terapeutas, o nosso trabalho é ajudar a pessoa a reintegrar esse senso de autovalor. É trazer de volta a indescritível liberdade de ser quem se é!
É a sensação de voltar para casa... 

Um pouco sobre

Autocobrança

Imagine que você esteja querendo ir do Rio para África do Sul de barco. Ali estão você e o capitão. Você sai do Rio super motivado, porém, após alguns quilômetros mar adentro, você percebe que estão indo na direção norte, sendo que a África do Sul está na direção leste. Imediatamente seu corpo liga o estado de alerta e você vai atrás do capitão para falar com ele. Ao chegar na cabine, você vê o capitão assistindo Reels do Instagram. Então você chama a atenção dele, que diz: “Estou cansado, preciso descansar só mais um pouquinho”. “Ok! Combinado!”. Mas passa um bom tempo e nada do capitão colocar a mão no leme e mudar o rumo do barco. Você volta lá e ele agora está comendo um lanche, e diz: “Já estou indo”. Ok mais uma vez. Após um tempo você volta e ao perceber que ele estava respondendo a uma mensagem no whatsapp, você se revolta: grita, xinga, ameaça, mas ele ainda assim não muda o rumo do barco. “Eu quero ir para África do Sul e não para o Canadá! Que parte você não entendeu?”, “Eu sei, eu já vou resolver isso”, mas nada. Você então decide jogar pedras no capitão. Chamá-lo de todos os nomes não foi suficiente. Ele precisa sofrer mais. Então você joga pedras, xinga, grita, até chegar no seu último grau de exaustão. Nesse momento você desiste, deixa o barco seguir no rumo Norte, e fica completamente desanimado. Sem energia pra nada. Tanto faz! Até que, finalmente, mesmo se sentindo destruído, você decide olhar para o capitão e perguntar o que está acontecendo e o que ele precisa. Então, você se depara com uma nova realidade.
Essa história pode ter vários fins. Pode ser que o capitão não acredite na potência do barco para atravessar o oceano e, portanto, esteja seguindo mais próximo à costa, por ser mais seguro assim. Pode ser que na verdade, ele estivesse se sentindo muito só e com isso, ficar ali preso dentro da cabine sem a sua companhia, fosse algo insuportável demais. Pode ser também, que ir para África do Sul fosse um sonho apenas seu, e não dele. Independentemente da resposta do capitão, uma coisa é certa, jogar pedras e xingar não ajuda em nada. Mas conectar com a dor dele e perguntar o que ele precisa é fundamental para ajustarmos o rumo do nosso barquinho.
Muitas vezes, vivemos a vida jogando pedras na gente mesmo, achando que assim iremos mudar nosso comportamento, seja o de parar de procrastinar um sonho, seja de interromper um vício. No fim da história, ficamos ainda mais machucados e sem sair do lugar. Mas desistir também não é uma saída. O desafio é aprender a conversar com o capitão que vive dentro da gente e entender o que ele precisa para mudar o rumo do nosso barco.
Às vezes, quanto mais triste a gente fica, mais a gente deixa o barco seguir solto.
Ao ponto de se sentir uma fraude.
Vamos mudar isso? Está em tempo.. 

Um pouco sobre

Emoções

Simone de Beauvoir escreveu que existem condutos mágicos que abolem as distâncias através do espaço e do tempo: As emoções. O que faz todo o sentido, pois podemos produzir emoções tanto na vivência do presente, quanto quando no presente, recordamos situações do passado ou nos projetamos no futuro. Conseguimos fazer isso graças a nossa capacidade de abstração e simbolização.
Mas o que são emoções? São um conjunto complexo de reações químicas e neurais que sustentam processos de atenção seletiva, cognições, e tendências para ação.
Indicam que algo importante acontece em nosso organismo e que precisamos observar ou mesmo realizar alguma modificação no ambiente. As emoções tem a função de sinalizar necessidades, nos auxiliando em nossa regulação física e psicológica.
Você pode perguntar: Quais necessidades? De conexão, proteção, validação, reconhecimento dentre outras. As emoções vão organizando nossas necessidades centrais e guiando nossas ações para que possamos alcançá-las. Evolutivamente as emoções têm origem em nossa necessidade de resposta rápida diante dos eventos da vida, e através dela vamos aprendendo e construindo associações e significados para elas.
Nosso organismo processa as informações recebidas, através delas e suas respostas fisiológicas, cognitivas, expressivo-motoras e comportamentais. Por essa razão dizemos que são bússolas que nos sinalizam nossas necessidades e geram uma tendência para uma ação adaptativa indispensável à nossa sobrevivência. E assim vamos estabelecendo prioridades e atribuindo significados às nossas experiências. Nos ajudam a tomar decisões e por em prática as nossas ações.
Precisamos que nosso sistema emocional tenha um funcionamento adequado, pois dependemos disso para obter bem estar e saúde psicoemocional. Existem estruturas responsáveis por esse funcionamento, são elas, os esquemas emocionais, as respostas emocionais e a regulação emocional.
Os esquemas emocionais são estruturas compostas de memórias de vivências emocionais, que formam o pilar do processo de atender à informação emocional e compreender nossa experiência emocional de uma forma singular.
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Ana Teresa Mendes 

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